quarta-feira, janeiro 24, 2007

Em vão

Passo triste na vida e triste sou,
Um pobre a quem jamais quiseram bem!
Um caminhante exausto que passou,
Que não diz onde vai nem donde vem.
Ah! Sem piedade, a rir, tanto desdém
A flor da minha boca desdenhou!
Solitário convento onde ninguém
A silenciosa cela procurou!
E eu quero bem a tudo, a toda a gente...
Ando a amar assim, perdidamente,
A acalentar o mundo nos meus braços!
E tem passado, em vão, a mocidade
Sem que no meu caminho uma saudade
Abra em flor a sombra dos meus passos!
Florbela Espanca
Um poema perdido no tempo. . . e na gaveta. . . lolll :)
Espera que a amizade não se perca também...

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Namorado ter ou não, é uma questão
Aqui deixo um texto Artur de Távola, embora atribuido muitas vezes a Carlos Drummond de Andradede, que faz pensar um pouco...
"Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, de saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.

Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado mesmo é difícil.
Namorado não precisa ser o mais bonito, mas aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção não precisa ser parruda, decidida ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.

Quem não tem namorado não é quem não tem amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode não ter namorado.

Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar.

Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinicius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada; de ânsia de viajar junto para Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.

Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, fazer cesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor.
Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira dágua, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.

Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não chateia com o fato de o seu bem ser paquerado.

Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim-de-semana, namorado madrugada ou meio-dia de sol de praias cheias de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afectivo.

Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e de medo, ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar.Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírio para quem passe debaixo de sua janela.Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e de galanteria. Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar de repente, parecer que faz sentido."

terça-feira, janeiro 16, 2007

Tempestades da vida
"A seguir à tempestade vem a bonança" diz o ditado.
É bom acreditar nisso porque senão acreditarmos nunca superariamos os problemas, os desgostos e as complicações que vamos vivendo ao longo da vida. Mas a tempestade traz também laços mais fortes entre as pessoas porque elas se unem para a superar. Ninguém consegue viver a vida sozinho. Todos precisamos de alguém que no apoie, alguém que esteja em todos os momentos... para isso contamos com a familia e com os amigos, contamos com todos aqueles que nós são queridos.
Mas por vezes preferimos não enfrentar a tempestade e fechamos a porta do nosso coração. Isso traz dor e tristeza e afasta todos os que gostam de nós. E afasta-nos a nós mesmos da nossa vida, do que realmente é importante para nós porque deixamos de ver as coisas como elas são e passamos a ve-las com olhos de dor.
E a vida é curta demais para ser vivida assim. A felicidade tem que ser uma constante na nossa vida... e mesmo que às vezes pareça impossivel alcançala temos que acreditar em nós e lutar para que essa felicidade não escape e para que ela vença a tempestade.
O Tempo Passa

O tempo passa? Passa.
Mas há vincos difíceis
No caminho.
Há manchas na pele
Que roubam a beleza.
De que adianta estar
Esticadinha,
Com os colarinhos aprumados,
Se há uma enorme mancha
A te olhar, a te lembrar
Daquele fatídico dia
Em que o melhor gole
Errou a boca e foi
Parar ali.
Passa. Passa. Tudo passa.
O tempo passa panos pintados,
Listrados, esfumaçados, lisos.
O tempo passa, mas há sempre
Aquelas dores amarrotadinhas,
Chatinhas de passar.
Puxa daqui, estica dali.
Dá pra ir! Dá pra sair!
Ninguém vai reparar.
Deixe disso, que bobagem!
Ninguém vai reparar
Nesse furo. Está bem escondidinho.
Só você que está vendo.
Então acha que todos vão ver.
Vão não.

O tempo passa e borrifa gotículas
De esperança, às vezes,
Para passar melhor.
De vez em quando, somos pegos
Pelo avesso e, quando voltamos
Ao começo, percebemos que não
Está bem . . . passado.
Passa-se um lado. Amarrota-se
O outro.
Ah! Tá difícil. Vá assim mesmo!
Cintia Barreto